...Fiz a comida. Achei bonito a gordura frigindo na panela. Que espetaculo deslumbrante! As crianças sorrindo vendo a comida ferver nas panelas. Ainda mais quando é arroz e feijão, é um dia de festa para eles.
Antigamente era a macarronada o prato mais caro. Agora é o arroz e feijão que suplanta a macarronada. São os novos ricos. Passou para o lado dos fidalgos. Até vocês, feijão e arroz, nos abandona! [...] Vejam só. Até o feijão nos esqueceu. (JESUS, 1963, p. 38)[1].
Este é um relato de 23 de maio de 1958 do diário de Carolina Maria de Jesus, publicado como livro, "Quarto de despejo: diário de uma favelada", pela primeira vez em 1960.
Carolina aborda em seu diário uma série de problemas sociais que uma pessoa negra e favelada convive em seu dia a dia. Um destes problemas são os alimentos, e como o acesso a eles, mesmo que a gêneros simples como arroz e feijão, costuma ser volátil a determinadas condições sociais, como principalmente a sua.